A Guerra de Canudos e o escritor Mário Vargas Llosa

 

Wagner Lemos
Doutor em Literatura (USP)
e docente da UNEB Euclides da Cunha
Instagram: @prof_wagnerlemos

Nos últimos dias, tornou-se notícia a morte do escritor peruano Mário Vargas Llosa. Esse ganhador do Prêmio Nobel de Literatura viveu quase aos 90 anos e, além das excelentes obras de ficção, manteve no currículo uma farta coleção de polêmicas políticas, tendo saído de um campo ideológico para outros bem distintos. Isso fez com que muitas restrições fossem feitas às suas posições políticas, contudo ninguém pôde lhe negar a extrema qualidade na escrita.

Mesmo sendo estrangeiro e tendo vivido em outras partes do mundo distantes de seu origem, esse autor tem algo muito mais próximo de nós, de nossa história, de nossa região. Algo em sua produção literária que se destaca por se relacionar ao Brasil, mais especificamente ao sertão baiano no entorno do conflito de Canudos. Trata-se do romance “A Guerra do fim do mundo”, publicado em 1981.

É um dos livros mais importantes do autor. Essa obra nasceu de uma proposta de uma empresa produtora de cinema para que ele escrevesse o roteiro de um filme. As pesquisas foram realizadas e os escritos foram sendo feitos, porém o roteiro cinematográfico nunca saiu. Em seu lugar veio o romance. Nele, misturando elementos históricos e de ficção, Vargas Llosa recontou a seu modo a Guerra de Canudos. Ali, Antônio Conselheiro, figura da realidade divide espaço com personagens criados pelo autor peruano a fim de poder criar sua narrativa romanceada.

Bem antes dele, Manoel Benício, autor de “O rei dos jagunços” (1899) e de Euclides de Cunha, autor de “Os Sertões” (1902) já tinham se dedicado ao tema da Guerra de Canudos. Note-se, contudo, que Llosa agiu diferentemente desses dois autores. Ele não tinha a intenção de fazer um detalhado registro histórico e em um compromisso com a Ciência da História, seu interesse era fazer (e o fez) uma produção literária.

Essa obra foi uma das que consagrou Llosa. Para fazê-la, o escritor passou meses em nossa região para, segundo ele, encontrar inspiração e entender o espaço do conflito. Veio ver de perto o sertão e os sertanejos, quis ver a paisagem, prosear com as pessoas, perceber as condições do clima e pisar nas pedras e no chão argiloso. Dizia que era seu laboratório para mergulhar e poder fazer uma obra mais completa. Precisou ver para dar asas maiores à sua imaginação criadora e refazer nas páginas do livro Canudos, seus algozes e seus mártires. Todavia, é certo afirmar que sua leitura histórica para compor o texto não é um consenso, assim como nãom o foi a sua vida de posicionamentos ideológicos.

É certo dizer que a soma desses fatores: a escrita de Vargas Llosa somada ao conflito de Canudos foi uma junção que assegurou a ambos um alto lugar em nossa História.

Para saber mais:

LLOSA, Mario Vargas. A Guerra do Fim do Mundo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981.

A Guerra do Fim do Mundo:
https://www.youtube.com/watch?v=hOiVP_Ves8M

Entrevista com Mário Vargas Llosa:
https://www.youtube.com/watch?v=YUJKgDXSo-o